Ex-professor de uma escola agrícola com diversos alunos premiados na OBMEP desde 2005, Ari é atualmente professor orientador do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) em polo que funciona na mesma escola.


Ari Friederichs, de São Miguel do Oeste (SC)

 

 

Assim que soube da existência da OBMEP, em 2005, Ari Friederichs vibrou e foi pessoalmente conversar com o diretor  do Centro de Educação Profissional Getúlio Vargas, onde trabalhava, para que a instituição aderisse. “Conhecia o potencial dos meus alunos e sabia que eles teriam êxito. Desde a primeira participação, sempre foram premiados”, orgulha-se o professor, que em 2015 completou sessenta anos de vida, quarenta deles dedicados à docência.

 

Mesmo tendo passado por inúmeras turmas, a atenção dedicada a cada estudante - o mais recorrente elogio recebido por ele - faz com que lembre de todos, um por um. Enumerando ex-alunos seus que hoje estudam Física, Mecatrônica e, em especial um rapaz que foi fazer mestrado em Matemática na França, o professor não esconde o orgulho por ter feito a diferença em suas vidas.

 

Ainda na ativa, Ari admite que, às vezes, escreve mais até que os estudantes nas avaliações. “É preciso explicar o que eles fizeram de certo e o que podem melhorar. Acredito que a diferença no trabalho do professor está na maneira de ser. É preciso conquistar o aluno”, defende. Foi esse jeito que cativou Natânia, atualmente formada em Direito. Para ela, a melhor qualidade do professor era a calma: “Ele sempre tinha paciência com as dificuldades de cada um. Era muito carismático e sabia segurar a atenção da turma. Você vê que ele ama a Matemática e quer passar isso para a gente.”

 

O impacto da OBMEP na escola

 

O catarinense trabalhou no Centro de Educação Profissional Getúlio Vargas de 2003 a 2009, lecionando Matemática e Física para o primeiro e o segundo anos do Ensino Médio. Ali deixou sua marca. O diretor, Lotário Staub, lembra que Ari foi quem “alavancou” os estudos da OBMEP na escola e, uma vez iniciado, o projeto não parou mais: “A Olimpíada mexe não apenas com o interesse dos alunos pelas disciplinas que envolvem Matemática, mas também com a notoriedade da instituição e com a auto-estima do grupo funcional. Todo projeto que contribui para colocar o colégio para a comunidade é visto com bons olhos por nós. E a OBMEP é pioneira nesse quesito”.

 

A repercussão local não é lembrada apenas pelo diretor. Vinícius Csarnobaz, ex-aluno de Ari, fez três anos seguidos de PIC e lembra que todos os estudantes da cidade já conheciam “aquele professor que era o melhor”. Segundo o jovem, o maior trunfo do mestre é sua versatilidade: “Todo ano eu voltava ao PIC e sempre tinha algo diferente. Por mais que tivesse feito três anos, nunca foi repetitivo. Foi isso que garantiu a fama dele. Até meus amigos de outras escolas sabiam quem era o Ari”.

 

O próprio professor conta do efeito de contágio positivo que os estudos tiveram: “já na primeira edição, conseguimos muitas premiações e com isso despertamos o interesse dos alunos pela matemática. Mesmo quando deixei de trabalhar na escola, ela continuou tendo alunos com menção honrosa ou medalhas”. De fato, na edição de 2014 o colégio teve duas medalhas de prata, duas de bronze e três menções honrosas, sua melhor pontuação desde a primeira OBMEP.

 

Gustavo Sartore, outro ex-aluno, cursa Engenharia Civil em uma Universidade particular com desconto pelo programa federal Prouni, e participou dos encontros do PIC durante os três anos do Ensino Médio. Para ele, Ari é um professor desafiador, que instiga o estudante a resolver os problemas e a pensar. “Desde aquela época, a matemática virou uma prioridade para mim. O raciocínio lógico parecia me abrir o pensamento. Foi um dos fatores facilitadores para passar na faculdade.”

 

 

Todo mundo ganha

 

Para Ari, a vitória dos alunos também foi pessoal. Não somente pelo reconhecimento de seu trabalho, mas pela oportunidade de estágio no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) quando foi professor premiado: nos três primeiros anos da OBMEP, os professores premiados eram convidados a participar do EPP – Estágio dos Professores Premiados – encontro realizado, em média, durante uma semana com minicursos, palestras e oficinas. A troca de experiências entre os professores de todo o Brasil foi, segundo os próprios participantes, fundamental. Ari recorda os assuntos que mais lhe marcaram em seus dois estágios no Rio de Janeiro: “uma das coisas que me chamaram a atenção foi o uso de um método chinês para demonstrar teoremas em Geometria. Outro assunto relevante dizia respeito à aplicação da informática na Educação. Antes de chamar os alunos para aulas de informática, é importante trabalhar os conceitos e habilidades para então usar a tecnologia".

 

Ari se considera “conteudista”. Segundo ele, o conhecimento é essencial para o entendimento da realidade. “Os alunos precisam entender quando e como aplicar corretamente a matemática. Meu trabalho é mostrar o conceito da forma correta com base no que o jovem conhece, e não apenas apresentar a fórmula matemática. É preciso estimulá-los a pensar, agir, construir uma resolução e valorizar essa resolução.” Os resultados na OBMEP mostram que a estratégia rende bons frutos.

 

O mestre defende também que a melhora no desempenho em matemática é uma questão de alfabetização. “O ensino da Matemática vai melhorar significativamente no momento em que, no início da vida escolar e nas séries iniciais, trabalharem bem os conceitos básicos. Pensadores apontam que daqui a alguns anos ninguém mais vai conseguir agir no mundo sem os mínimos conhecimentos da matemática”, ressalta o educador.

 

 

Levando a Matemática além

 

Ari pode até não ser mais professor da Getúlio, mas isso não o impede de continuar dando aulas por lá. É que a escola sedia os encontros regionais do PIC e o professor é o orientador responsável pelos medalhistas da região. O colégio fica em São Miguel do Oeste, cidade próxima à fronteira de Santa Catarina com a Argentina e com o Rio Grande do Sul, a 730 quilômetros de Florianópolis, e tem cerca de 39 mil habitantes. O trabalho do docente por ali já rendeu até homenagem na Câmara Municipal. “Sempre motivei meus alunos a participar e, com o tempo, conseguimos incentivar outras escolas também a fazer parte”, explica.

 

Em suas quatro décadas de docência, Ari foi professor de Física e Matemática para o Ensino Médio, trabalhou com o Ensino Fundamental, deu aula em faculdades e foi até coordenador regional pela secretaria estadual de educação. Mas o trabalho do qual mais gosta e que até hoje não abre mão é o de professor orientador do PIC, o qual desempenha desde a primeira edição da iniciação científica, em 2006. E garante: “Enquanto minhas forças permitirem, não pretendo me afastar. A gente trabalha com alunos que têm um raciocínio muito aguçado, que são excepcionais. É uma diversão. Sem dúvida, o que meus ex-alunos aprenderam no PIC os incentivou tanto que alguns se encontram em universidades federais”, declara o mestre.

 

Ele responde à coordenação regional de Chapecó, a 130 quilômetros de distância de seu município. É em Chapecó que os orientadores do PIC de regiões vizinhas se reúnem periodicamente para trocar ideias com o objetivo de aprimorar o programa e alcançar locais ainda mais distantes. Se as reuniões são esporádicas, o contato com a Coordenação Regional de Inicial Científica (CRIC) se dá de forma constante, de duas a três vezes por semana, via internet ou por telefone. O objetivo é manter a coordenação a par do desempenho de cada aluno e das dificuldades dos orientadores. “Conversando com outros professores orientadores, vemos o alcance da OBMEP, que de fato atinge o objetivo proposto, de resgatar os talentos perdidos Brasil afora. A gurizada vem de muito longe na maioria das vezes, alguns de áreas rurais, inclusive.”

 




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